O tempo é o mestre dos mortais.

sábado, 14 de julho de 2012

. Nunca me senti diminuído, nunca me senti agredido, nunca tive necessidade nem vontade de empunhar bandeira nenhuma. Claro que, quando há alguma discriminação, eu grito e acho justo gritar. Mas jamais encaminharia meus livros ou meu trabalho para uma coisa assim tão dirigida. Eu estava revisando um conto curtinho deMorangos Mofados que se chama Além do Ponto. É sobre um sujeito sem nome,caminhando na chuva, com uma garrafa de conhaque embaixo do braço à procura de um outro sujeito abstrato que está esperando por ele em algum lugar. E ele chega na casa do outro, começa a bater e a porta não abre. Essa história, na época em que o livro foi lançado, foi lida como uma história homossexual. Não é. Ela é a procura de Deus. O homem atrás da porta é como Godot, de Samuel Beckett. Foi uma leitura muito chinfrim. E o Brasil está muito assim, está muito Barbie. É uma ansiedade pelo plástico e uma avidez pela intimidade alheia! Eu tenho horror dessas revistas que entrevistam peruas e perus. Há um esvaziamento interior muito grande nas pessoas, elas estão ávidas tanto para ouvir quanto para falar sobre isso. A mim, nada que é humano me espanta e justamente por nada ser espantoso e vergonhoso a gente pode falar a respeito, mas a palavra chave é dignidade. Eu li muita fábula quando era criança, muito Esopo e La Fontaine – ética é bom e a gente gosta.
Caio Fernando Abreu
Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto.— Caio Fernando Abreu

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